“Vamos marcar, poxa! Estou morrendo de saudades”… E lá se passaram dois, três meses.
Eu não sei você, mas essa mensagem é uma amostra de várias conversas que tenho no meu WhatsApp com pessoas que amo muito! Algumas vezes sou eu quem as envio; outras, sou eu quem as recebo. Sem julgamentos, pois eu mesma oscilo entre essas duas posições frequentemente.
Talvez o gatilho para escrever este texto tenha sido justamente uma culpa avassaladora que tem tomado conta de mim. Um questionamento, quase que existencial, me fez e faz refletir se estou vivendo a minha vida corretamente… (Quem pegou a referência musical comenta aí ;).
Como e por que tenho escolhido as prioridades do meu dia desta forma?
No início eu acreditava que essas mensagens eram trocadas apenas por quem eu não tinha tanto afeto. Eram mensagens de conhecidos ou colegas que esbarravam na minha vida ao longo desses trinta e tantos anos.
De uns tempos pra cá, elas têm se tornado mais comuns, mas sem critério de afinidade, carinho e proximidade. Ninguém da minha lista de contatos tem saído ileso: pai, irmão, avó, prima, amiga de infância, faculdade, trabalho… A lista está cada vez maior! Meu Deus! Desespero instalado com sucesso.
Vejo fotos dos lindos filhos e filhas de amigas com quem já convivi com tanta frequência, e fico me questionando: como eu ainda não conheço esses seres humanos? Como não consegui encontrar uma agenda em comum com eles para viabilizar esse encontro tão importante? Ao mesmo tempo, eu consigo encontrar momentos para deixar meus comentários e percepções nos itens que comprei pelo app de delivery ou no site de roupas da China que acabei de usar. Prioridade que fala, não é mesmo?
Não sei se sou a vítima ou se sou o monstro. Se sou insensível ou apenas um ser humano extremamente cansado. Equilibrar os pratinhos de me exercitar, tentar comer saudável, trabalhar 12 horas por dia, manter um relacionamento a salvo da rotina, deixar a casa limpa e o cachorro menos estressado e destruindo menos meus móveis… Não têm sido tarefas fáceis de realizar, muito menos conseguir a alta performance nelas.
Quando saio para me divertir volto para casa com culpa e refletindo se em vez de ter ido ao show da banda que adoro eu deveria ter me organizado para apresentar a Tia Bah para a criançada. Ô dúvida cruel!
Me serve de afago quando converso com algumas amigas — as que ainda não desistiram de mim e das quais eu ainda não desisti — e me parece que é um sintoma mais comum do que imaginamos. Todos em alguma intensidade estão sentindo essa angústia de falta de tempo e de dificuldade de priorização.
Seria isso apenas o “adultecer”? Eu quero acreditar que não, quero acreditar que é uma questão de escolha. Que é possível sim gastar menos tempo no celular, ter um volume de trabalho mais confortável e sustentável, reclamar menos, guardar alguns episódios da série para semana que vem, sem necessidade de maratonar tudo de uma vez.
Acho que também preciso ser mais realista e reconhecer que talvez eu não seja uma pessoa péssima ou insensível. Apenas sou fruto de uma sociedade cansada, atormentada por afazeres cada vez mais numerosos. Talvez o que me falte são momentos de autopercepção e autoconhecimento como esse. Estar mais atenta ao que é importante e valioso pra mim. Do que preciso e posso abrir mão, e do que não posso deixar para depois.
A escrita tem esse poder, de organizar os pensamentos e sentimentos. Com a mente mais clara, temos condição de agir com mais autenticidade, sem anestesias e distrações externas.
E você, também sente essa angústia de não estar dando conta de tudo? Como faz para se autoperceber e autoconhecer melhor? Terapia, meditação, leitura, escrita, prática religiosa, espiritualidade… Não temos mais o luxo de não escolher nenhuma. Sem isso estaremos fadados ao “existir e pagar boletos” apenas — e deixar o tempo passar sem realizar aqueles encontros realmente importantes para nós.
Até as empresas têm olhado com mais cuidado para essas questões, e proporcionado iniciativas para seus colaboradores de se perceber e se conectar consigo mesmo. Esse é o primeiro passo para mudar. Não é possível mudar ou transformar aquilo que ainda não foi visto e descoberto.
É isso. Vamos à luta, que será diária e eterna.
Aos meus sobrinhos com quem eu já tive a oportunidade de criar lembranças maravilhosas, obrigada por não desistirem da Tia Bah! E àqueles que eu ainda não conheço, me desculpem a demora. Tia Bah está tentando chegar o mais rápido que ela dá conta.
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BÁRBARA DAMASCENO
Bárbara Damasceno é uma das sócias da Amadoria, facilitadora de experiências, consultora de desenvolvimento organizacional, designer de vivências de aprendizado e desenvolvedora de novos negócios. É administradora de formação e especialista em Recursos Humanos pela Universidade da Califórnia de Los Angeles, mas segue como uma entusiasta e curiosa por processos de aprendizagem e de trocas significativas que conectam as pessoas com o que elas têm de maior e melhor.
“Vamos marcar, poxa! Estou morrendo de saudades”... E lá se passaram dois,
A escuta é um processo importantíssimo na comunicação, e uma das grandes que
“Ouvir somente com os ouvidos é uma coisa. Ouvir com o intelecto é outra. Ma