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Como a escuta me transformou



3 julho, 2023
Autoconhecimento

A escuta é um processo importantíssimo na comunicação, e uma das grandes queixas das pessoas hoje em dia é: “não me sinto escutado”, “minha voz não tem valor”. Ouço muito essas frases/sentimentos, por onde passo. Escutar genuinamente, é algo muito raro, e não é à toa que entra ano sai ano, as empresas nos contratam buscando melhorar a comunicação com os seus times. Aqui quero compartilhar um pouco sobre os impactos do exercício da escuta no meu dia a dia e confirmar a afirmação: “a escuta também é a arte de nos tornarmos outros para nós mesmos, e deixarmos que o outro se torne um habitante de nós.” 

 

“O prefixo grego dia, presente em “diálogo”, remete a “atravessar”. Como em diâmetro. A linha ou medida que atravessa o círculo. Logos do Grego, “conhecimento” ou “significado”, mas também “discurso” e “razão”. Assim, dia-logo quer dizer o “significado que atravessa”. Dialogar é, portanto, empenhar-se para que o significado do que o outro diz e do que o outro sente chegue até você.”                                                 

 Trecho do livro: O palhaço e o Psicanalista 

 

A comunicação e o desenvolvimento de habilidades nesse quesito sempre me chamou atenção. Comecei por mim mesma a perceber a forma como me comunicava. Como psicóloga, me incomodava muito a minha necessidade de falar. Mesmo não estando na clínica, entendia que eu perdia muito por estar sempre querendo emitir minha opinião, dar ideias, me expressar, fosse como fosse. Eu entendi que precisava suspender um pouco o ego, acalmar a minha impulsividade e escutar mais. 

 

Os ganhos que obtive foram impressionantes

Com os estudos sobre a Comunicação Não Violenta, aprendi a suspender o julgamento e a me colocar diante do outro, em primeiro lugar, para simplesmente observar o que acontecia. Nesse processo, foi muito interessante como eu me aproximei de pessoas que eu havia julgado mal no passado. Como na citação que inclui no início desse post, passei a deixar que o significado do que o outro diz e sente realmente chegasse até mim.  

Percebi como a minha ansiedade diminuiu, meus colegas começaram a achar que eu estava muito calada, ou que tinha acontecido algo de errado comigo.  Mas a verdade é que eu estava mais calma e pedindo a voz, expressando a minha opinião, ou trazendo sugestões, apenas quando eu entendia que efetivamente poderia contribuir. Eu não estava mais preocupada em mostrar meus conhecimentos a todo momento, em ter a última palavra ou ficar marcando território em cada reunião ou espaço. 

Quero deixar claro que não estou propondo o silêncio absoluto, apenas estou dizendo que comigo foi preciso exercitar mais a escuta. Uma vez que eu sempre falei muito. Reforço que a cultura do silêncio é perigosíssima para a geração do ambiente psicologicamente seguro e uma grande inibidora da geração de confiança, do compartilhamento de ideias e da inovação. 

Minha chamada aqui é que possamos equilibrar o falar e ouvir, entendendo que a qualidade da escuta determina a qualidade do diálogo, das trocas e da nossa própria capacidade de contribuir com as nossas ideias e conhecimentos.

No livro O Palhaço e o Psicanalista: Como escutar os outros pode transformar vidas, os autores se referem à escuta como uma arte e dizem que “há pessoas que escutam com os ouvidos, outras que são capazes de escutar com os olhos, outras ainda fazem do corpo todo um órgão de escuta.” Esse foi outro aprendizado que eu tive ao ampliar a qualidade da minha escuta.

Muitas vezes, conversando com alguém, eu parava para mexer em algo, responder outra pessoa, pedia um minutinho… hoje evito ao máximo interrupções. Eu realmente acreditava que era possível ouvir o outro, pedindo licença enquanto ele falava, fazendo outras coisas enquanto conversávamos. Sabe aquela frase: “pode falar, estou te ouvindo”. Se estivesse mesmo, eu não precisaria dizer isso. O meu corpo inteiro estaria dizendo ao outro: “estou com você”.

Outro exemplo sobre a minha transformação pela escuta: certa vez, com um grupo de líderes em um cliente, um deles se mostrava extremamente hostil, falava quando não era o momento, falava com seus colegas ao lado. Até que num momento eu o chamei para a conversa e perguntei: o que você acha do que estamos discutindo? 

Ao que ele respondeu: eu não concordo com nada disso! Me desculpe, sei que você é especialista e não quero questionar seu conhecimento, mas isso aí não se aplica a esta empresa e ao meu trabalho. 

Então eu lhe pedi que me explicasse um pouco mais sobre a sua rotina de trabalho e que me ajudasse a ajudá-lo. Ao longo daquela manhã eu dei tanta atenção a ele que no período da tarde, quando retomamos o workshop, ele pediu a fala, disse: “Cynara, não é que eu não concorde com tudo o que você está falando, mas eu queria que você entendesse como o nosso trabalho é diferente.” 

Percebam: ele precisava da minha atenção, precisava ser escutado e precisava sentir que eu me importava efetivamente com as suas condições de trabalho e que eu compreendesse como sua atividade era bem diferente das dos outros líderes que ali estavam. E eu precisava de muita humildade, sensibilidade e maturidade para entender que eu precisava mudar minha abordagem se quisesse criar uma conexão real com ele e contribuir verdadeiramente com a sua prática e desenvolvimento. 

Assim como ouvi outro dia numa apresentação “é preciso coragem para empatizar”, digo: é preciso mais do que o órgão de escuta para ouvir o outro, é preciso coragem, humildade e muita intenção. Desenvolver a habilidade da comunicação é tarefa para a vida toda.  Vamos conhecer pessoas, culturas e viver experiências diferentes. Então, precisaremos adotar novas estratégias. Não é tarefa fácil, mas o resultado é sempre muito enriquecedor!

Pra mim tem valido muito a pena escutar mais e me transformar dia a dia, à medida que amplio minha capacidade de me comunicar. 

E por aí, como está a sua escuta?  

 

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CYNARA BASTOS

Cynara Bastos é psicóloga e inspiradora de pessoas, que tem como missão promover a autoconsciência, permitindo que os seres humanos reconheçam seus dons e que possam, por meio deles, gerar riqueza intelectual, espiritual e financeira.

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